Gerar a vida é uma dádiva única, que somente quem vive é capaz de explicar. Os filhos chegam para transformar a vida de todos que circundam essa criança. Um compromisso eterno de criar e educar um outro ser e transformá-lo no melhor que puder para enfrentar as lutas do mundo. Sobretudo, nada se compara ao amor incondicional que há entre mãe e filho. Ver os primeiros passos, as primeiras palavras, acompanhar o crescimento até se tornar um adulto, com personalidade e objetivos.
Pensando em celebrar esses laços, chamar a atenção das famílias para reparar a rotina e dedicar mais tempo de qualidade na covivência entre pais e filhos, foi intitulado o dia 23 de setembro como o Dia dos Filhos.
Logo na gestação, muitas mães começam a se preparar psicologicamente para lidar com a maternidade e esse processo não é fácil. Dúvidas, inseguranças, preocupações, dias de planejamentos e ansiedade. A maternidade é um desafio diário e, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 11 milhões de mulheres enfrentam a criação dos filhos sozinhas, sem participação dos progenitores.
A partir do momento da descoberta da gravidez, a mulher ressignifica a própria história e fazer acompanhamento com especialistas é essencial. A doula, Rafaela Nunes, acompanha gestantes e destaca a necessidade ainda maior de profissionais de confiança nessa etapa da vida das mães solo. “É bom mostrar pra elas que mesmo lutando sozinhas, aquela criança estará com ela agora. É uma razão para lutar. É uma grande responsabilidade e deve ser motivo de mudar essa mulher para melhor. Há como ser muito melhor do que era antes, mesmo com todas as dificuldades que a maternidade traz”, conta a doula.
Aos 24 anos, Taíze Souza, descobriu que estava grávida do seu primeiro filho e que iria enfrentar esse desafio sozinha. “A maternidade sempre foi um sonho, mas recebi a notícia com um susto. A gestação em si foi difícil, porém o momento mais complicado aconteceu após o nascimento. Com isso, tudo mudou e eu me senti mais determinada a proporcionar uma vida melhor para ele”, relata.
O impacto de começar um novo ciclo trouxe consigo a depressão pós parto. “De fato, a maternidade é uma delícia mas, também é muito romantizada. Tive depressão pós-parto e o mais difícil era assimilar que meu filho dependeria completamente de mim. Minha liberdade se transformou e agora passou a se basear nele. Não foi fácil, eu queria muito voltar a trabalhar”, contou Taíze.
Hoje, após cinco anos, a jovem conta que o apoio e a ajuda da família foram essenciais em toda essa tragetória e que “quando meu pai aceitou a minha gravidez a vida começou a caminhar melhor”. De acordo com Taíze, a rede de apoio familiar se tornou o pilar principal para traçar o caminho da maternidade solo.
Cada maternidade tem suas particularidades mas, é unânime o envolvimento emocional, a curiosidade para saber com quem o filho irá parecer ao nascer, além dos planos traçados para os próximos anos, mas tudo isso pode ser interrompido. A revista médica “The Lancet” publicou em abril deste ano que, em média, 23 milhões de mulheres sofrem com aborto espontâneo por ano em todo o mundo, representando 15% do total de gestantes, sendo 44 abortos por minuto. De acordo com esses dados, conclui-se que é mais recorrente do que muitas pessoas imaginam.
A médica ginecologista e obstetra, Rafaella Nascimento, atende diariamente pacientes desacompanhadas por diversos fatores e reforça que “é necessário proporcionar apoio durante o atendimento, dando segurança para enfrentar essa responsabilidade, explicando que a partir de agora ela precisa se concentrar em dedicar esforços para cuidar da família que ela está formando”. Além disso, a médica conta sobre as mães que já tiveram aborto espontâneo e engravidam novamente. “Por ter esse histórico, elas têm medo da nova perda a qualquer momento. Isso torna o atendimento no pré-natal muito importante, para que elas se sintam preparadas e cientes de que cada gestação é única”, disse a médica.
O momento de lidar com a perda de um filho representa a tempestade, onde habitam a dor e o medo. Porém, após uma grande tempestade vem o arco-íris, trazendo um novo dia repleto de cores. Assim são chamados os bebês que nascem após a perda precoce de um filho, são os “rainbow babies” (bebês arco-íris). O termo usado nos Estados Unidos tem ganhado popularidade mundial através das redes sociais após figuras públicas usarem essa expressão.
Para Danielle Fidelis, ter o segundo filho era um sonho e após fazer tratamento por três anos conseguiu engravidar. Porém, ainda no início da gravidez recebeu a triste notícia de que havia sofrido o óbito embrionário. “Foi traumático. Perder um bebê é muito difícil. Descobri que as nossas dores e o nosso luto são só nossos. Ninguém, nem marido, nem família sentem as coisas da mesma forma que a mãe”, relatou Danielle. Seis meses depois, sem nenhum tratamento, engravidou novamente e, então, veio o bebê arco-íris.
Apesar do trauma recente, a alegria com a chegada de mais um filho era inigualável, mesmo passando por uma gestação desafiadora e precisando ficar cinco meses de repouso, ela acredita que foi um milagre. “Minha bebê é um super arco-íris. Ela leva alegria por onde passa. É custosa, falante e inteligente. Realmente veio dar esperança, alegria e amor nas nossas vidas. Minhas filhas são a minha vida, eu vivo em razão delas. Minha maior satisfação é vê-las bem cuidadas e crescendo”, conta. Além disso, Danielle conta que ter uma boa rede de apoio foi fundamental para tornar a maternidade mais leve e poder aproveitar os momentos em família.
A rede de apoio é primordial em todos os casos, principalmente, para mães solos e mães de bebês arco-íris. Pode ser alguém que auxilie a mulher com afazeres domésticos, com o filho e esteja sempre atento. “Alguém com o olhar atento é alguém que sabe reconhecer se o que ela está passando está dentro do normal e esperado, ou se requer alguma ajuda. No pós parto ela tem uma grande queda hormonal, mudança de corpo e de rotina. Muitas das vezes ela passará o dia amamentando. Ter alguém que segure esse bebê enquanto você toma banho, ou faz uma refeição, fará toda a diferença no puerpério dela”, explica a doula Rafaela.
Assessoria de Comunicação do Governo da cidade de Valparaíso/
Texto: Lizandra Costa/Arte: Rangel